Q&A

Q&A 22/07/2016

By Eduardo Albuquerque - 7/22/2016

Todas as sextas-feiras eu respondo perguntas enviadas pelos leitores do blog. Se quiser me mandar uma, acesse este link e aperte enviar (ou tente nos comentários!).

Vamos ao desta semana!

Sei que os episódios de 25min são mais atraentes aos expectadores por seu dinamismo, mas (lá vem clichê) isso se aplica mais a sitcoms. Pq esse modelo é tão usado aqui, até em séries dramáticas? Vejo o lado bom e ruim, uma vez que em 25min fica mais complicado de aprofundar arcos. Como você recebe e pode compartilhar uma estrutura para esse modelo, lembro de Doc pincelar sobre uma estrutura para episódios de 25min em "Da criação ao Roteiro".

Atenciosamente,
Gabriel Lira

Fala, Gabriel!
O engraçado (que acho que no Brasil não entendem) é que 25, 45, 1 minuto ou 1 mês... tanto faz!

Seja a metragem que for, você tem que ter "início-meio-fim" colocados em suas proporções corretas. E no caso da TV, existem balizas que demarcam estas proporções: os act breaks. Eles são os ossos da sua estrutura. Eles são os determinantes na cadência da sua história.

Deixe-me contestar algo em sua pergunta: por que exatamente você diz que os episódios de 25 minutos são mais atraentes aos expectadores? Eu não consigo ver isso. Acho que este modelo é muito usado aqui por outros motivos e podem até usar como escudo/desculpa, mas nenhum deles é, de fato, por conta da história/estrutura, pois história/estrutura se adequam à metragem que for.

Vamos falar Globo, pois a concorrência, como já falei em outro post, infelizmente, não tem personalidade própria. Há uma revolução bem grande acontecendo nos últimos 4 para 3 anos por lá. Mas é como se fosse um transatlântico; demora muito pra fazer a curva. Especialmente num lugar tão "people oriented", com um sistema de "núcleo do fulano", onde figuras célebres estão em posições de destaque e controle há anos. Uma mudança de filosofia assim demora muito tempo.

Pois bem. Em 2010, vendi uma série sobre Futebol para eles e muita gente de peso lá dentro trabalhou conosco no desenvolvimento dos roteiros. Foi um processo de 6 meses para 1 ano e, ao término, infelizmente no último step (a mítica reunião de Angra, onde decidem o que entra em produção) uma coisinha pequena chamada "Avenida Brasil" fez com que nossa série não fosse adiante por se tratar do mesmo tema: futebol. Sim, Avenida Brasil passou ao largo de ser "sobre futebol", né? Pois é, mas, segundo eles, novela era o prato principal deles e ter no ar duas coisas remotamente sobre o mesmo tema "confundiria o espectador".

Feito o preâmbulo, vamos ao porquê de eu estar falando isso. Amigo, você não sabe como algumas coisas bobas que servem à história (e para todo mundo de roteiro algo óbvio) BAGUNÇAVA com as idéias de alguns líderes lá. E não estou falando de executivos engravatados. Criadores, Diretores, Escritores! Por exemplo: contestaram o fato de os episódios terem "teaser"/"cold opening". Eles diziam que não podia ser daquele jeito, pois fazer teaser de 2 minutos e entrar na abertura faria o espectador mudar de canal para a concorrência. Então até hoje a maioria das séries e a totalidade das novelas (reparem só!) começam grudadas no programa anterior e tem um primeiro bloco de quase QUINZE minutos non-stop até cortar pra abertura e ir pros comerciais. E aí, faltando mais 7 minutos, você tinha mais um bloquinho curtinho pra encerrar. O argumento deles é que, se o espectador mudar de canal nesse momento, o programa da concorrência já estará no meio e ele não conseguirá entender e preferir o concorrente, voltando, assim, para eles.

Não aceitei esse argumento. Tem um double standard engraçado, porque na visão deles o espectador é independente ao ponto de ficar surfando os canais procurando melhores opções para assistir, mas sem personalidade de, ao ver que algo não está fluindo, permanecer naquele programa só porque ainda não deu comercial. Enfim, depois de argumentar que "tempo lógico" e o tempo de facto são duas coisas diferentes e, neste caso, no ponto de vista do storytelling, o tempo lógico da narrativa era muito mais importante - cheguei até a decupar um episódio inteiro da série "Força Tarefa" pra mostrar por A+B como os 15 minutos jogavam na real CONTRA o propósito de manter a audiência grudada - eu senti visivelmente que todos entenderam o que eu disse (eu fui bem anal, fiz excel e tudo!), mas, após uma pausa, com um misto de insatisfação e pesar, meu interlocutor falou "Mas é assim que a Globo faz. Vamos manter os blocos desse jeito".

Como disse, há uma revolução acontecendo. Quando vi que aquela série "Dupla Identidade" fez um "previously on..." eu fiquei felizaço. Uma besteirinha que era inaceitável até pouco tempo atrás - "Mas se o cara assistiu semana passada e vê aquelas cenas de novo, ele vai mudar de canal!", eles diziam - que já é normal agora. Enfim, as coisas tão mudando e espero que converjam sempre para "o que é melhor para a história", pois sempre o que é melhor para a história é o que vai fazer o espectador continuar no canal, assistir até os comerciais (que é o que paga a conta) e todos - do roteirista ao executivo - ficarão felizes e contentes.

Então, depois disso tudo que falei - que espero que de alguma forma tenha sido construtivo/elucidativo - acho que os 25 minutos são muito usados por alguma lógica ilógica e preguiçosa de compreensão do público. Provavelmente alguém vaticinou "25 minutos é curtinho, não dá tempo do cara enjoar! Já troca de programa e mantém ele conectado ao tubo" e ninguém contestou ainda com bons argumentos e muita reincidência que: ritmo = dinâmica. E essa, na real, é a resposta macro que acho que te responde tudo, inclusive qual é a "boa estrutura" para episódios de 25 (ou 45 etc.). Algo que aprendi com música:

Ritmo é feito tanto de sons, quanto de silêncios. É a dinâmica entre estes dois elementos - ora som por tanto tempo, ora silêncio por tanto, um cortando o outro - que faz o ritmo. É o ritmo que te faz dançar, faz um elefante marchar; é o ritmo que faz você engajar e desengajar de alguma coisa. Você, como roteirista, tem que dosar dentro dos espaços/balizas que tem, um ritmo que controle as emoções da pessoa, ora convidando-a, ora repelindo-a, ora fazendo seu coração acelerar, ora fazendo-o desacelerar.

O "como fazer isso" é algo que não se ensina muito. Você vai sentindo. Os signos ("cliffhanger", "twist" e bla bla bla) são vazios por si só. Só tem significado quando você vai construindo sua lógica e achando movimentos na história para brincar com a emoção e atenção do seu leitor/espectador. Seja a duração da sua história a minutagem que for.

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1 comentários

  1. Nossa, ajudou muito...
    Então, sobre a preferencia por episódios com 25min, não tenho conhecimento, mas quando se fala em maratonas, séries com 25min ficam mais dinâmicas. Acompanho um grupo no FB, e elas têm preferencia lá.
    Sobre o "modo Globo", Bonner falou, a ideia de expectador Homer Simpson.
    Obrigado!

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