Reflexões sobre Buddy Movies

By Eduardo Albuquerque - 4/18/2016




Buddy Movies são aqueles filmes onde basicamente há dois buddies (amigos), de sexos opostos ou não, que OU se odeiam e são colocados numa situação onde tem que aprenderem a trabalhar juntos para triunfar OU que se dão bem, mas algo acontece que os faz rever isso e ele tem de voltar ao início, onde se davam bem, para triunfar. Sim, as chamadas "comédias românticas" são buddy movies.

É um gênero muito popular há décadas, especialmente por dois fatores: é universal - todo mundo sabe o que é ter um alguém cuja a sua dependência à ela irrita, todo mundo sabe o que é ter uma relação de amor-e-ódio - e, em geral, pode ser relativamente barato de se produzir. Nos últimos anos me apronfundei bastante no gênero pois acabei escrevendo em sequência 3 Buddy Movies e, apesar de ser um estilo fácil de identificar, há nuances da compreensão do "fazer" deste tipo de roteiro que só fui pegando escrevendo, errando, voltando pra analisar os problemas, meditando sobre os porquês e buscando ver como é feito normalmente por aí. Estou longe de ter todas as respostas, mas concatenei algumas verdades com uma linguagem própria que me pareceram de boa serventia nesta missão, as quais reflito sobre neste post:

Vejo duas metáforas da relação dos dois (ou mais) Buddies que protagonizam o filme: ora é uma luta pelo volante, para ver qual dos dois buddies está no controle do "carro", pra ver qual dos dois está no comando da situação, ora é um jogando a batata quente para o outro; ou seja, é SEMPRE uma briga relativa a responsabilidades da condução da narrativa da vida, agora compartilhada, dos dois. O catalisador é sempre algo que os coloca em alguma situação de co-dependência e esta co-dependência desagrada ambos que se viam como auto-suficientes. Ao invés de assumirem que um precisa do outro - algo que só pode acontecer ao final do filme, pois ao fazer isso acaba o conflito - eles passam o filme todo se bicando, chamando a responsabilidade pra si quando lhes convém, jogando a responsabilidade pro outro quando lhes convém. A "descoberta" que eles fazem é que não são tão diferentes um do outro como imaginavam e que tem de chegarem a um caminho do meio entre os dois para resolver a questão que for. O equilíbrio, um pouco do ying com um pouco do yang, vai ser a solução para o problema que eles enfrentavam. O Buddy Movie tem como bandeira a conciliação e a abdicação do ego.

Tendo isto como premissa narrativa, é de se argumentar que o mais importante é estabelecer qual é o mecanismo de conflito que coloca os dois buddies juntos. Quando pensamos em "plot" para esses filmes a verdade é que metade do caminho é arquitetar direitinho a mecânica que coloca em choque os dois buddies - qual a complicação que faz com que eles não deem a mão logo um para o outro e assumam que querem/precisam um do outro? As famílias rivais? O medo? O ego? Mentiras? - porque, uma vez (bem) arquitetado este mecanismo que os obriga a estarem juntos - seja pelo acaso ou por necessidade - o que queremos é vê-los colidindo, ora um vencendo, ora o outro e, no final, ambos vencendo juntos. Pode ter uma surpresa aqui, uma inversão ali, mas a direção final é sempre a mesma. O importante é criar uma situação crível - mesmo que seja fruto do acaso - da qual os buddies não possam fugir até que trabalhem juntos, de maneira que extendamos por quase 100 páginas de muita discussão dos personagens e diversão nossa, assistindo esses dois que não conseguem fazer o que para nós parece óbvio; baixar as guardas e confiar um no outro.

  • Share:

You Might Also Like

0 comentários