Ele disse, ela disse

By Eduardo Albuquerque - 4/12/2016




 O site polygraph.cool é um portal muito maneiro que vale sempre o clique. Eles se auto-intitulam como exploradores de "tópicos complexos via storytelling audiovisual" e eu até vejo a intenção, mas acho que onde eles se sobressaem mesmo é na coleta de dados e, principalmente, nos objetos de suas pesquisas/estudos. Esse ano eles publicaram um muito interessante para nós, que trago aqui pra vocês: uma análise da questão de gêneros no cinema. Veja aqui.

É, sem dúvidas, o maior estudo já feito sobre o assunto. Realizada por Hanah Anderson e Matt Daniels, a pesquisa analisou mais de 2 mil roteiros para traduzir para dados aquela velha história de que os filmes de Hollywood são em sua maioria dominados pelo sexo masculino. O ponto focal são os diálogos. Considerando as falas como o maior representante de presença, a pesquisa contabilizou-as e discriminou-as em cada sexo. Os ângulos e resultados são muito interessantes; a Disney/Pixar, por exemplo, possui 4 filmes com distribuição igualitária de falas entre os sexos, 4 filmes onde o sexo feminino tem 60% mais falas e 23 (VINTE E TRÊS!) filmes onde o sexo masculino tem 60% mais falas. Cruzando estas informações com a questão de idade, a coisa fica ainda mais interessante: enquanto as falas diminuem para o sexo feminino de acordo com o avanço da idade, para o sexo masculino é o oposto; há mais papéis para atores mais velhos.

O estudo, é claro, é um estudo. Uma análise, uma pesquisa, que pode ser enviezada ao prazer de quem a degustar; há um FAQ bem legal sobre a metodologia direcionando exatamente todas as suas falhas (veja aqui). Mas é inegável que é a ferramenta mais poderosa já tornada pública para nós, roteiristas, criadores de conteúdo, diretamente interessados nesse mercado e nessa matéria. Para a nossa reflexão. Eu acho sempre que quantidade e qualidade são coisas diferentes. Como já pontuei em outros posts (como nesse e nesse) tem muito filme de ótica masculina com mulheres protagonistas e de certo que um filme pode ser todo estrelado por homens e mesmo assim ser um filme feminino ou até uma protagonista feminina não ter fala nenhuma, por que não? Mas também, independente de todos os "se", a disparidade é tanta; muitos desses filmes podiam ter um pouco mais da presença feminina de forma mais representativa, não? A quantidade de filme que tinha 100% falas de homens... não é burrice dos realizadores não contemplar mulheres no produto final? E o que mais interessa a mim, roteirista; não é inverossímil para estes roteiros uma porcentagem tão grande assim da ausência de mulheres? No meu mundo elas estão por aí o tempo todo. No destes caras não? Enfim, se fosse uma análise de filmes da escola São Bento (e a escola, que é só para meninos, fosse um internato) tudo bem, mas como não é, sei lá, acho que é algo que tem que ser pensado com mais carinho, pois, esqueça os direitos civis e todo o resto; é uma puta falha de verossimilhança e verossimilhança é o artífice número 1 de uma boa narrativa.

E você o que achou do estudo e o que acha dessa questão? Fala aí nos comentários!

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