De tudo que falo aqui na Sala dos Roteiristas; nada é uma regra. Não existem "regras" na hora de escrever um roteiro. Existem padrões, costumes, práticas, atalhos etc. pra que você chegue a um resultado final satisfatório, coerente e plausível. Destes 3 últimos adjetivos, vou advogar, no post de hoje, contra o último.
O roteirista profissional deve saber como e onde cortar e/ou alterar para baratear a produção do que ele escreveu. Em breve falo mais sobre como fazer isso. No entanto - e especialmente aqui no Brasil, onde todas as produções são por necessidade "faca na caveira" - esta prática, na raíz, nos faz (e ao filme e ao público final) um desserviço criativo. É difícil, anos a fio no mercado, desligar a chave "produtora" na sua cabeça e falar "Sabe de uma coisa? Vou botar uma cena de uma festança/banquete SIM. É importante pra ilustrar o quanto o meu personagem, o rei desse imenso e imponente reino, senta-se sozinho na cabeceira, cheio de poder, mas sem qualquer amizade." Existe uma figura chamada "Produtor", que está ali exatamente para isso. Pra dizer "cara, essa cena vai custar muito caro. Podemos cortá-la?". E ainda assim, você deveria arrumar maneiras de não cortá-la e sim de baratear tal cena.
Sinto que isso é uma questão própria à nós, roteiristas, que, tensos, doidos para agradar, já antevemos todos os problemas e tentamos entregar a melhor combinação entre o fazível e o agradável. E devemos fazer isso mesmo. Mas com ênfase no agradável. No criativo, no lúdico, na inovação; no entretenimento. Vejo que com os diretores não há esse problema. Eles não tem medo de botar na análise técnica deles steadycam, grua, dolly, jimmy jib... o Produtor vai chorar com ele isso e aquilo e ele enventualmente vai fazer as concessões dele, porque não tem jeito: se não há plata, não há como. Mas ele vai primeiro pedir tudo pra que ele possa realizar com efeito a visão dele. Da mesma forma, acho que temos que fazer isso. Nos editar menos. Não ter vergonha de pensar uma história que se passa no espaço ou que seja um thriller cheio de perseguição de carro e coisas do gênero. Às vezes não é a sua visão que tem que ser ajustada e sim a do Produtor ao projeto. O quanto não estamos perdendo ao não tentar perseguir o "maior" que conseguimos pensar?
Saiba como reduzir/baratear a produção, mas não reduza/barateie sua escrita e sua criatividade. Este não é o seu trabalho! Não se antecipe a esse problema. Conheça-o, mas não se edite de cara. Às vezes o que você pensava que seria um problema não vai ser visto assim pelo produtor. Ou você justificou tão bem - porque não se editou - que agora ele que vai se virar pra fazer aquilo acontecer.
O roteiro é sempre a primeira instância de um filme. Você dá o tom, roteirista. Tudo se constrói à partir do que você escreve. Portanto, se você, de início, segurar a criatividade na rédea curta, a chance de chegar ao final com pouco ou quase nada de criativo e diferente no seu filme é grande.
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