BRAINSTORM: Automatização

By Eduardo Albuquerque - 11/12/2015


 
Faz tempo que eu não faço Brainstorm por aqui, né? Ah, os motivos devem ser tanto exteriores quanto interiores, mas pouco importam. O importante é que trago um post que acho que pode gerar uma reflexão e bagunçar os nossos neurônios e estimular um pouco os músculos cerebrais.

A centelha foi acendida por conta deste artigo aqui. Como sempre, aconselho a leitura, mas faço um resumo: com a inevitável popularização dos carros totalmente automáticos - que se auto-dirigem através de sensores, gps etc. olha que maneiro - acadêmicos publicaram uma monografia sobre as questões éticas que tal inovação vai trazer, especificamente uma; em um cenário de iminente acidente, o carro, que é capaz de calcular a quantidade de mortos, deveria sacrificar os passageiros do carro em nome do "bem maior"?

Exemplo: o "motorista" tem 50 anos e o carro está indo de encontro com uma mulher grávida de 20 anos. O carro pode se "sacrificar" e se jogar em uma parede, poupando duas vidas mais jovens, mas sacrificando a do motorista ou frear e talvez não pegar a grávida, mas salvar o motorista. E aí? O que fazer?

Este tipo de dilema sci-fi (que na real é zero sci-fi) é o que constitui de verdade uma premissa temática de um filme. Não é nunca o "o quê" e sim o "porquê". Pouco interessa a máquina que ficou maluca e matou gente. Pouco interessa o alien, o tubarão, o monstro... Nós somos os monstros! As coisas mais malucas que vemos no audiovisual só funcionam porque colocam a gente no centro da questão de alguma maneira e nos provoca a pensar "o que eu faria?".

Neste caso específico, olha que coisa difícil de responder... Como valorizar uma vida perante a outra? Se o motorista de 50 anos for um pai de família de 12 filhos, será que isso não "vence" as duas jovens vidas que estavam ali? E isso entra para uma discussão complicada também de minorias; a máquina faria um cálculo rápido ali em nome da não-extinção da espécie?

É um movimento duplo e contrário muito interessante. Uma necessidade de "humanizar" a máquina através da inserção de algoritmos comparativos num mecanismo "frio" e uma vontade de "maquinizar" a nossa existência para que a vida seja completamente automática... Pensando assim, não é exagero concluir que o humano tem um desejo mórbido de auto-destruição. Sim, o que pode ser visto como vontade de aprimorar o nosso mundo, também pode ser entendido como uma tentativa de substituição de nós mesmos. Pense bem: antes eram cavalos que puxavam charretes, mas alguém falou "sejamos mais eficientes!" e desenvolveram motores pra puxar o carro. E assim foi indo com tudo. Só que chegou uma hora que reparamos que nós mesmos não somos tão eficientes e lentamente estamos nos substituindo. Se os robôs, que são criados para serem mais eficientes que nós, mas inevitavelmente vão seguir o nosso comportamento (afinal foram criados por nós), fizerem esta sinapse, é claro que o próximo passo é nos substituir de vez, porque... NÓS somos os monstros. Nós destruímos o planeta onde vivemos sugando tudo que ele tem de bom, desperdiçando, depredando, sendo humano e ineficiente.

Enfim, me empolguei aqui na "stream of consciousness". Mas parece que eu levaria minha história para esse lugar. De repente um filme de investigação ou tribunal, onde o caso é o aparente "defeito" da máquina, como aquele da Volkswagen, mas que aos poucos o detetive/advogado (ou se bobear o dono/criador da máquina!) - que deve ter algo da vida pessoal que ressoa com o dilema todo - vai concluindo ser "vontade própria" de um computador sem vontade, para que reflitemos junto e através do nosso personagem principal que a culpa é nossa. A culpa é sempre nossa. Refletir que nossa cultura de consumo e suposta "liderança" está totalmente equivocada e esta automatização é um reflexo disso. Sei lá.

O importante é que dilemas éticos como esse - ainda que de certa forma futurísticos - estão calcados no presente, em coisas simples de entender ainda que complexas de decidir. Os dilemas são mais importantes que os fatos em si. Os fatos só existem pois precisamos de um exemplo. Não é "quem matou fulano de tal?" e sim "por qual motivo ele matou?". É isso que nos surpreende e nos interessa e condiciona toda a história. Tenha sempre muito definido o "por quê" de contar a história que você tá contando, pois ele vai te dar uma visão muito mais clara do "como", da melhor maneira de contar a sua história.

Pra finalizar, como é brainstorm: adiante-se à este caso... quais outras inovações anunciadas/buscadas pelo homem que podem gerar alguma questão? (Todas; senão não é inovação. Mas to estimulando seu Tico e Teco) Por que? Qual a sua opinião sobre? Mas como você se posicionaria se acontecesse o inverso com você? Hmmm... agora, com isso tudo na cabeça, qual seria a melhor situação pra ver e discutir esta questão/dilema através de imagens? Quais os momentos mais cinemáticos que você percebe nesta situação?

PS: eu tenho a impressão que essa modalidade de posts não interessa muito a galera... faço mais pra me exercitar mesmo e quando tem algo que fica me cutucando e não tenho outra opção se não escrever sobre. Mas se alguém aí discorda e curte, por favor deixe seu incentivo nos comentários que eu procurarei fazer mais!

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2 comentários

  1. Olá Eduardo! Achei teu site por acaso e to devorando os textos.
    Bem bacana as ideias que coloca por aqui e por todo o blog.
    É bastante esclarecedor alguém do "meio" indicar propostas; dar exemplos... nem sempre encontramos esse formato mais prático na academia e/ou nos cursos apresentados.

    Abraços e siga em frente ae!

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  2. Obrigado pelo incentivo! Suas palavras são apreciadas!
    Fico feliz que os textinhos fazem uma diferença. Tenho estado super ocupado com uns projetos para escrever mais, porém o bom é que já temos um "catálogo" de posts aí, que podem servir para consulta e, assim, ir formando um público maior pra quando eu tiver tempo pra fabricar mais posts!

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