Act Breaks

By Eduardo Albuquerque - 11/09/2015


 
Você já entendeu que a TV e o Cinema, embora na superfície sejam parecidos, são meios diferentes por alguns motivos: consumo e produção e também quanto ao perfil narrativo da premissa de suas histórias. E também já entendeu que para escrever TV, ao invés de vários tratamentos, você escreve do macro pro micro.

Mas talvez tenha ficado meio vago ou brando especialmente a parte referente a quebrar um episódio.

Posso estar parecendo um pouco metódico, mas a verdade é que só entendendo o sistema como um todo é que aparecem algumas especificidades narrativas televisivas. A escrita ainda tem que ser a mesma. Ainda é imagem + som. Ainda é a manipulação de palavras para formar diálogos e imagens que postos juntos vão criar mise en scenes e movimentos de trama, certo? Você ainda tem que fazer as cenas vibrarem e levar seu espectador para uma realidade diferente da dele.

O que é realmente determinante na hora de pegar sua idéia e transformar em roteiro - e talvez você já tenha até pescado sozinho; esse era o intuito do meu tatibitati, à propósito - tem nome composto: se chama "intervalo comercial".

Não se engane, meu caro, o dinheiro da TV vem da publicidade, então no fundo sua missão é escrever um conteúdo engajante o suficiente para que o espectador não mude de canal entre um bloco e outro - pois ele não pode perder um segundo sequer do seu programa! - e, assim, assista a propaganda comercial do intervalo. Você está vendendo Coca-Cola, Ricardo Eletro e Monange da maneira mais artística que existe.

Percebe que só deste ponto de partida já muda tudo? Os melhores Showrunners levam as especificidades deste meio em conta e usam ao seu favor: na maioria das vezes, os Showrunners quebram o episódio com o seu time descobrindo primeiro os Act Breaks. "Se a história deste episódio vai de A até B, quais são os pontos de "Wow!" que eu tenho pra usar de gancho?"

O roteiro de um episódio de televisão tem que dispôr sua narrativa pensando nos blocos que ele terá (nos EUA geralmente 5 ou 6 para programas de 1 hora e 3 ou 4 para programas de meia hora), dosando as tensões, informações e viradas de história de acordo com estes blocos e sempre observando o "Act Break" para manter o espectador no canal.

Feito isso, eles partem para os meandros de cada cena de maneira que tudo faça sentido, sempre observando os arcos dos personagens na temporada, para que o episódio convirja para a direção previamente desenhada pelo Showrunner e sua Sala de Roteirista.

Este é um detalhe tão bobo que passa TÃO ao largo da produção serializada no Brasil... e é tão fácil de implementar; não é nenhuma física nuclear! Mas... tem muitos outros fatores por trás disso, na própria minutagem dos blocos. Outro dia eu falo especificamente sobre isso; não parece adequado quando escrevo o post na categoria "S.O.S. Roteirista" e não "Mercado"...

Enquanto o VOD ainda não tomou as rédeas do consumo de conteúdo da TV, enquanto ela ainda é responsável pelo grosso da produção, é importante que você devote bastante atenção a esta questão narrativa dos blocos e trate com carinho os Act Breaks. Eles são a epítome do espírito narrativo da história serializada, que se fosse traduzida em uma frase seria: "e agora; o que acontece?!". Esta é a frase que você quer que seu espectador esteja constantemente pensando.

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1 comentários

  1. Bah... e como isso é importante, né! Lembro de quando conseguia ver algumas séries, e agora que você falou, se tornou bem nítido. "House" tinha muito disso. A cada nova ideia do cara... um break comercial. Era cruel. Mas eficaz... Os caras sabem muito bem como te prender.

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