Q&A

Q&A 09/10/2015

By Eduardo Albuquerque - 10/09/2015

Todas as sextas-feiras eu respondo perguntas enviadas pelos leitores do blog. Se quiser me mandar uma, acesse este link e aperte enviar (ou tente nos comentários!).

Vamos ao desta semana!

É, sou eu de novo Eduardo. Eu tô sofrendo uma séria crise de medo de escrever. É o seguinte: Eu já tenho metade do roteiro pronta, ok, eu só preciso escrever mais. Mas quando eu vejo a página do Software, me dá uma agonia e eu rapidamente desisto de escrever.

O que eu faço?

A ponte diz oi.
Carlos Massaca

Eu digo "sinto muito, Ponte", a situação no Brasil não está fácil e não vai ser por agora que vou conseguir morar por aí, ainda preciso gramar um pouco por aqui. Espere por mim!

Mas chega dos meus problemas! Vamos ao seu:

Cara, uma pergunta: você sabe o que tem que escrever (o que acontece na segunda metade do seu roteiro); só está com medo de continuar, certo?

(Diz que sim! Diz que, se alguma coisa você pegou lendo este blog, é que você só começa a escrever depois que tiver arrumado toda a estrutura do filme. Depois de ter feito o argumento, o beat sheet e a escaleta!)

Se não... meu amigo, você está ferrado. Porque eu só posso te dizer, volte ao início, repense toda a sua história e você vai ter uma dificuldade imensa, porque vai estar apegado aos pequenos e preciosos momentos que JÁ escreveu e que não necessariamente vão te ajudar a chegar a um desfecho. Papo de abandonar o projeto porque é muito difícil criar a distância objetiva e trabalhar os problemas nessa condição. Serinho. Não to exagerando não. Infelizmente. Você não sabe pra onde está indo; como julgar o que você fez bom ou ruim, pertinente ou não? Ao mesmo tempo como saber pra onde você vai com um começo já feito, com suas virtudes e defeitos, mas que não necessariamente estão apontando pra onde você tem que ir, provavelmente apontam para lugar nenhum. É uma loucura! Escrever o Tratamento só pode ser feito quando você não tem mais nenhuma outra opção. Pelo menos eu só funciono assim.

Mas torcendo para que não seja o caso e você escreveu já sabendo o que tinha que fazer... (não significa que está certo o caminho pra onde você vai, nem que não vá mudar durante o trajeto; só significa que você pensou e chegou à algo que, no momento em que criou, fazia sentido e provia um desfecho satisfatório.)

Cara. Isso é normal. O processo é esse. Chegar ao fim é vencer, mas também perder, né? Você perde o propósito que estava regendo sua vida aqueles meses. Você investiu tanto tempo e emoção naquilo... terminar é dar fim à você também. Acho que o único jeito de perder este medo é praticando muito. Escrevendo tanto que deixa de ser um fardo, a "derrota" perde o peso, pois passa a ser usual. É seu trabalho no final das contas e ele tem que ser entregue. Confesso que isso durou muito pouco comigo, porque eu odeio coisas inacabadas. A vida já é isso, uma grande narrativa interminável sem setups e payoffs catárticos. Óbvio que meu corpo arrumou outro jeito de atrapalhar a coisa, saiu o medo, mas veio o bode, o tédio. Do meio pro final do trabalho eu já começo a achar o roteiro um saco, meu trabalho ruim... e aí fico com preguiça, procurando outros projetos que ainda não tenham se "esgotado" em mim, pois procuro sempre o prazer, né? Não sei se é uma característica humana, não posso falar pelos outros, mas em mim sei que é uma tendência ("depressiva", se você quiser) de buscar o prazer, mas também a dor, pois ela nos faz sentir vivo. A gente busca a felicidade, mas precisa do sofrimento, porque no fundo sabemos que a vida é isso, este sublime (e tortuoso!) exercício de buscar o bem e a felicidade, numa realidade de dor e sofrimento.

Você ou desiste (não só do roteiro, mas da vida) ou segue jogando este jogo, fazendo o melhor das situações e transformando os limões em caipirinhas. Amamos a ponte, mas não se jogue dela! Jogue-se no roteiro, use todas as suas frustrações lá dentro dele, transformando em arte e finalizando essa parada. Relaxa que depois você vai fazer um novo e todo esse processo vai acontecer de novo. Meu pai uma vez me falou uma coisa mais ou menos assim "filho, desde que o mundo é mundo, todos os dias, não importava o que tinha acontecido, lá pelas 5/6 horas, o sol saía e era um novo dia". A gente é muito egocêntrico e acha que o mundo gira ao nosso redor, que tudo é grande e definitivo, mas no fim das contas somos um sub-troço de uma sub-raça entre milhões de outras que fazem parte de um pequeno planetinha dentre oito outros que fazem parte deuma galáxia com diversos outros bilhões de corpos estelares... qual o medo? Você não vai conseguir finalizar o seu roteiro? Vai entregar uma coisa ruim? Bro, o Sol, ainda assim, vai sair amanhã. Whatever. O medo é parte. Só faça o que você achar que tem que ser feito.

Como diria o careca: "The only thing to fear is fearlessness"

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