Quem dera o filme se auto-criasse e chegasse subitamente ao colo dos espectadores. Uma obra cinematográfica passa por 5 etapas bem diferentes entre si e o trabalho de um roteirista, pelo menos idealmente, é necessário em todas elas. Porém cada fase exige coisas diferentes de você. Tanto físicas quanto emocionais.
Nesta série de 5 posts falarei um pouco sobre o papel do roteirista - sua função, postura, dedicação e contrapartida - em cada fase de uma obra audiovisual. Para finalizar, vamos para a fase mais agridoce: o lançamento.
O .gif do post é só um breve momento. Sim, até rola esse glamour onde os flashs pipocam pois sua obra ganhou vida de fato e chegou ao consumo do público. Mas há trabalho ainda, pois você passa por uma bateria de trabalho midiático (coletiva de imprensa, sessões especiais, debates, entrevistas...) e isso requer de você foco, energia e serenidade.
Função: Sua função, como a de todos neste momento, é divulgar o filme da melhor maneira possível para que ele seja assistido. Oficialmente é fazer o que quer que os produtores + assessoria de imprensa decidirem que você tem que fazer. Está convencionado no seu contrato; você tem que estar disponível para dar entrevistas, participar das coletivas etc. e tal. No entanto, a verdade é que somos roteiristas, ninguém se importa com a gente, então a chance de você ter que fazer muita coisa é pequena. Você meio que pega as entrevistas que ninguém mais quis fazer e faz o melhor disso.
Postura: No lançamento, todo o extenso trabalho que foi feito passa por duas métricas que podem te deixar doido: a crítica e a bilheteria. Este é um jogo que você não pode ganhar. O lançamento de um filme passa por milhões de fatores - sorte, distribuição, mídia, clima, timing... - que afetam o "sucesso" dele, mas a verdade é que o sucesso é o próprio lançamento em si. Escrever um roteiro já é algo incrível - se não é um roteiro adaptado você criou algo do nada; já pensou nisso?! - ter ele produzido e lançado no cinema é impressionante, notável! E a indústria te reconhece por isso, pois sabe bem da dificuldade; pode ter certeza disso. Você faz parte de um seleto grupo de pessoas; seja grato a este momento que está vivendo e seletivo (até oportunista, por que não?) na hora de se importar com o desempenho na bilheteria e a opinião da crítica/público. Curta a crítica favorável e quase dispense a negativa como apenas "a opinião de uma pessoa". Na real toda crítica é a opinião de uma pessoa (que é paga pra ter uma opinião, olha que jogo doido!), então... por que se importar? Leia, faça uma avaliação do que é dito mas tente não se apegar nem se influenciar demais. Se você acredita no que fez, continue. Eu fico ao lado dos que são criativos, ou seja, os que criam, e não dos que desconstroem/destroem. Pelo simples fato que o desafio é maior. Desconstruir/destruir é fácil demais, simplório, intelectualmente menor. O espaço para crítica especializada é armado de uma maneira que a verdadeira crítica não consegue ser feita e vira um exercício de pessoalidade do gostei/não gostei e a democratização da crítica com o advento da internet também traz muitas vozes despreparadas que entendem (concientemente ou não; não sei) que sendo maldoso/negativo conseguem mais ibope, então, sério, não fique psico com isso. No lançamento inteiro antes e depois de sua obra ir "ao ar", tente se desapegar, ter compaixão pelos outros e se orgulhar do puta feito que é ter algo para que amem, odeiem ou sejam indiferentes.
Dedicação: Eu acredito que todo mundo é uma rede, então você pode e deve fazer além do que os produtores e assessoria de imprensa do filme te pedir e encher os amigos para irem ver seu filme. Pode incomodar! Especialmente no primeiro. Você vê milhões de "bom dia", fotos de gato/cachorro/comida, justiceiros sociais, "viva Dilma"/"fora Dilma" e não reclama (não reclama, né?! espero que não reclame...) então você pode também dessa vez. Não vai obrigar ninguém a ir, ficar perguntando "E aí? Você já foi?! Vou deixar de ser seu amigo se você não for!", mas pode postar todo dia alguma coisa, dizer onde tá passando... A boa é você ser criativo e tentar criar "conteúdos" cujo proósito final é fazer com que quem o consuma sinta vontade de ir ver o filme. Você é roteirista; vai pensar em algo maneiro pra isso! OBS: faça seu dever de casa! Às vezes o filme é lançado muito longe de quando você escreveu e algumas coisas não estão frescas na sua cabeça. Você quer dar o máximo de informações legais nas entrevistas e tudo mais, então quando for começar essa fase, tente parar e lembrar um pouco de como foi tudo. Cace emails antigos, dê uma olhada nos tratamentos pra lembrar o que foi mudando com o tempo, olhe as fotos (você tirou fotos, não?!), dá um google pra ver o que foi falado do filme anteriormente, converse com os produtores pra saber como vai ser o lançamento e o que é importante de ser divulgado... esteja sempre alerta! Dedique-se, pois cada ingresso a mais conta! Ninguém faz filme para ser guardado na gaveta. Você quer que o máximo de pessoas assistam!
Contrapartida: Dinheiro? Não há. Talvez se o filme for um puta sucesso e você tiver equity (porcentagem de bilheteria). Mas escuta uma coisa: este momento é o porquê nós escrevemos roteiros. Ver as imagens que você pensou materializadas na tela e sendo vistas e assimiladas por vários outros olhos... este é o seu pagamento. E, broder, vale muito a pena. Aproveite, saboreie e use essa energia para voltar ao início e fazer tudo de novo; do desenvolvimento à pré, passando pela produção à pós e o lançamento do seu próximo projeto!
Veja outros posts da série "O Roteirista e as fases de um projeto"
Primeira fase: Desenvolvimento
Segunda fase: Pré-Produção
Terceira fase: Produção
Quarta fase: Pós-Produção
Quinta fase: Lançamento
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