Quem dera o filme se auto-criasse e chegasse subitamente ao colo dos espectadores. Uma obra cinematográfica passa por 5 etapas bem diferentes entre si e o trabalho de um roteirista, pelo menos idealmente, é necessário em todas elas. Porém cada fase exige coisas diferentes de você. Tanto físicas quanto emocionais.
Nesta série de 5 posts falarei um pouco sobre o papel do roteirista - sua função, postura, dedicação e contrapartida - em cada fase de uma obra audiovisual. Hoje é o momento que todo mundo entende: produção.
Embora todos os momentos, no fundo, sejam partes da produção de um filme, o melhor jeito de explicar a "produção" é dizer que é o momento da filmagem; o momento onde falam "vai luz (ok), roda câmera (foi camera), ação!".
Função: Este momento é 100% do diretor. Ele é o líder. Então depende dele você ter função ou não. É muito doido isso, porque o ideal é ter alguém que manja da história para, no meio da loucura de mil planos e cenas diferentes, poder perguntar "peraí, de onde viemos e pra onde vamos nessa cena?", mas na maioria das vezes, nós, roteiristas, não temos função durante a produção. Estamos em casa e a galera no set de filmagem rodando o filme. Se o diretor tiver uma boa relação com o roteirsta (ou apenas "se for esperto") você pode até ser requisitado para ficar no set, acompanhar as filmagens e contribuir aqui e ali. Em ambos os casos, se rolar algum problema que exija re-escrever algo, você faz, é claro.
Postura: Cumprimente todo mundo, tente não atrapalhar o trabalho de ninguém, caso tenha alguém muito famoso não tiete (você é o roteirista deste filme; valorize-se!) e, principalmente: só dê sua opinião quando solicitado. Você tá ali, registrando tudo, aprendendo, anotando mentalmente as coisas e pronto pra, SE PERGUNTADO, dizer o que você acha/como faria algo. Mesmo se você tiver intimidade com o diretor e poder no projeto; caso tenha alguma idéia e/ou queira dar algum toque, puxe o diretor no canto ou tente falar no ouvido dando essa sugestão, sabendo sempre que ele pode ou não aceitá-la e que cabe a ele, somente a ele, determinar como vai ser neste estágio. Você não pode de jeito maneira minar a autoridade do diretor em frente à sua equipe! Pelo bem do filme. Lembre-se que esta é a etapa mais crítica de um projeto, pois envolve muita gente, muito ego, muito dinheiro. A boa dica é você encarar seu trabalho no set como "fazer o diretor sair bem na foto". Vai no ouvido, faça parecer idéia dele. Fique de boa, sem aparecer de mais, mas também sem parecer um esquisito que fica pelos cantos. Você é aquele reserva que fica à disposição do treinador e na hora do gol aparece pulando com o sorriso largo, dançando e fazendo galhofa. Você é o Vampeta!
Determinação: Bom, você tem que acordar as 5 da manhã porque se filma sempre super cedo, às vezes a locação é algum buraco sinistro e no verão pode ser bem quente... isso requer determinação (pelo menos pra mim), mas fora isso é uma época mais pra você curtir e aprender. Pode rolar de você trabalhar aqui e ali alguma coisa, mas geralmente é pouca coisa. Se for muita coisa é bad news e aí é bom você se motivar mesmo porque significa que as coisas tão ruindo e cabe a você (também) tentar salvar.
Contrapartida: Normalmente você não recebe aqui não. E se receber (o que lá fora chamam de "all purpose services") vai ser um fee bem pequeno. Mas ei! Você tá comendo de graça comida do catering (geralmente é bem boa!) e tendo a chance de ver in locco tudo aquilo que você criou começando a ganhar forma. É bem emocionante e gratificante. Vale algo!
Veja outros posts da série "O Roteirista e as fases de um projeto"
Primeira fase: Desenvolvimento
Segunda fase: Pré-Produção
Terceira fase: Produção
Quarta fase: Pós-Produção
Quinta fase: Lançamento
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