A vergonha do pop e o medo do erudito

By Eduardo Albuquerque - 6/04/2015



 Já faz um tempo que o meu blog brasileiro preferido, URBe, fez um artigo muito interessante com algumas provocações intelectuais acerca de uma tendência artística na música Brasileira. Entitulado "Kiko Dinucci e o medo do pop", gerou uma boa réplica do próprio Kino Dinucci, que trouxe ainda mais pontos a serem pensandos e, por fim, não uma tréplica, mas um adendo à toda a discussão.

Obviamente espero que você leia os três textos, pois fazendo isso já vai ser muito melhor pra você do que ler o meu post, mas montando em cima de tudo que foi falado, trago uma filosofada miscelânea um pouco mais para o campo do audiovisual, pois acho que a discussão é comum não só à televisão e ao cinema brasileiro, mas a todas as formas de arte no Brasil atualmente.

Tem o medo de ser pop? Eu diria que há vergonha em ser pop. Mas whatever; este é apenas um lado da moeda. Acredito que também há o medo de ser "cabeça"/erudito/etc. E esta é a pica: estamos sem os goals; é um jogo de bobinho (onde os artistas correm pela bola para quando finalmente pegá-la... resetar o jogo mexendo na configuração dele e continuar jogando). Capturar o Zeitgest dos consumidores de arte não deveria ser um fim em si mesmo e sim um meio para fazer mais gols. O estado atual de pau molescência nos traz "artistas" que não arriscam e "profissionais" que não estão 100% comprometidos em vender. É um meio do caminho fudido. Um medo generalizado de perder a possessão de bola apesar de não se ter a menor idéia do que fazer com ela.

Será que criamos uma geração muito consciente da dinâmica da cultura de massa, que prega que você não pode pecar nem pelo excesso de novidade nem pelo excesso de repetição na sua arte? Porque numa era onde NINGUÉM faz arte pela arte, onde a noção de público, mesmo a posteriori, é sine qua non, não vejo ninguém por aqui deliberadamente tentando "quebrar as barreiras", fazer algo mucho loko, extremamente pessoal e verdadeiro, transgressor, incorreto, imperfeito, gutural. E os outros podem até acusar, mas ninguém está de fato querendo fazer algo popular, mindless fun, pra lucrar e fim de papo. Sempre tem um "não, veja bem, é mais do que isso", como se "isso" não fosse importante pra caramba.

Eu não sei. Paro e tento pensar se algum dia foi da nossa cultura assumir alguma opinião. Acho que não e por isso é tão difícil para a gente mudar de opinião (o que é muito estúpido). Penso que a generalização das coisas é burra, mas a definição das mesmas é inteligente. Penso como o chavão "o inferno está cheio de boas intenções" faz um desserviço, pois no estado caótico das coisas a intenção conta sim. Penso e pensamos muito. Talvez tenhamos que deixar o instinto agir um pouquinho mais.

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