Dividindo os créditos

By Eduardo Albuquerque - 5/12/2015



Muitas vezes vemos nos créditos de um filme mais de um nome embaixo de "Roteiro" e isso não significa que aquelas pessoas escreveram o filme a quatro mãos. Se só há um nome, pode ter certeza que só aquela pessoa trabalhou no roteiro e/ou que uma porcentagem significativa (98%?) do roteiro final é de autoria dela. Mas havendo mais de um nome, OU estes nomes escreveram a quatro mãos - o que chamamos de "writing team" - OU estes nomes trabalharam separadamente no roteiro, cada um fazendo individualmente alguma quantidade de Tratamentos e tendo parte considerável deste trabalho sobrevivido até o roteiro final.

Nos Estados Unidos não é permitido mais de 2 roteiristas (sendo que um "writing team" são 2 roteiristas que trabalham JUNTOS, a quatro mãos, ou seja, conta como UM roteirista), exceto em casos muito especiais, mas limitado, de toda forma, a 3 nomes no crédito. Então você pode ver, por exemplo, algo tipo:

Screenplay by:
Fulano & Cicrano and Beltrano 


Onde "&" mostra um time de roteirista e  "AND" o outro roteirista. Quando é mais simples, sem "Writing team", com dois roteiristas que trabalharam individualmente em algum momento do roteiro e contribuíram o suficiente pra merecer autoria, pode só ter um em cima do outro. A regra para a ordem destes nomes também é tipificada e tem algumas variáveis que não vem ao caso.

Mas aqui no Brasil, como já falei milhões de vezes, não tem nenhuma dessas regras. É tudo negociação das partes. Estamos cada um por nós mesmos e o que as pessoas conseguem em seus contratos é o que fica, infelizmente. Então, é possível você ver o nome de vários alguéns embaixo de "roteiro" - me vem à cabeça o filme "Diabo a quatro", dirigido pela Alice de Andrade, que tinha absurdos SETE roteiristas! - e estes alguéns terem trabalhado em apenas 1 tratamento, sendo que quase nada que eles "criaram" sobreviveu ao roteiro final. Acontece.

E por que acontece?

Bom, talvez pela des-centralização do nosso mercado. Nos EUA temos grandes estúdios (FOX, Warner Bros, Universal, Disney, Paramount...) que constituem o grosso do mercado e possuem acordo com o WGA (Writer's guild of America, o sindicato dos roteiristas) para que o WGA faça a arbitração de quem é/são os autores principais daquela obra, para, com isso, determinar também os royalties residuais daquela peça, uma vez que ela comece a fazer sua carreira. Já aqui no Brasil não temos estúdios que dominam o mercado. Temos produtoras com volume pouco relevante e pouca solidez; muito mais complicado de firmar um acordo bilateral que não seja "furado". Então, o doido é que, pela nossa (roteiristas) pouca organização e união, pode acontecer de, num filme onde há dois roteiristas que trabalharam individualmente na obra, termos um roteirista com menos autoridade "moral" sobre aquele texto, recebendo mais royalties autorais do roteiro, pois teve poder de barganha melhor na negociação. Pode acontecer também da pessoa,mesmo merecendo, nem receber royalties! Simplesmente porque a Produtora não concedeu e o roteirista, querendo pegar o trabalho, aceitou.

Royalties deveriam ser tabelados; fixos e não negociáveis. Automático: "o filme feito à partir do seu texto fez X? Então você tem direito a % de X". E ele, que escreveu 30% disso? Leva 30% de % de X. É no cachê que a melhor negociação e o currículo de mais peso devem ser mais valorizados, acredito. A homem-hora é mais cara devido ao peso que seu nome/carreira já carregam, mas a contribuição autoral à obra não necessariamente. Só se provado. Para mim, a autoria e seus direitos conexos deveriam ser pré-estabelecidos em sua porcentagem e definidos por meritocracia de forma independente (arbitração criteriosa de um sindicato), sob pena de desvalorizar a essência do trabalho criativo dos roteiristas.

Enquanto não há uma definição de nada em conjunto, só posso recomendar que você lute pelo máximo de destaque que você consiga, ou melhor, que lhe seja justo ao término do projeto. O outro roteirista é seu amigo, parceiro e não adversário. É delicado e difícil, mas se conseguirem se conversar e trocar uma bola sobre como proceder; melhor. Afinal, querendo ou não, a possibilidade de seus nomes estarem lado a lado eternamente no filme é grande. Tratem-se bem e de forma justa. E quando escrever como "writing team" negociar junto, um pacote, que seja dividido entre os dois irmamente, afinal, são duas pessoas, mas constituem um só "objeto", um time.

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