Operação Sonia Silk e a produção-distribuição-exibição brasileira

By Eduardo Albuquerque - 4/14/2015




O sistema de datas de lançamento de longas no cinema aqui no Brasil é muito confuso em todas os aspectos. Um deles, a divulgação do dia da estréia, sempre me confunde, pois a inconsistência de informações é grande. Portais respeitáveis às vezes dizem uma coisa, o site da distribuidora diz outra... quando não tem um site oficial ou uma mídia social atuante fica difícil de dizer quando vai sair.

Por conta disso, não sei se confere a informação, mas ambos Filme B e Adoro Cinema apontam que esta semana estreiam "O Rio nos pertence", "O uivo da gaita" e "O fim de uma era". Eles compõem um projeto chamado "Operação Sonia Silk", sobre o qual você pode conhecer em mais detalhes aqui, mas que resumidamente consiste em 3 longas feitos com a mesma equipe e atores no período de 1 mês.

Pelo que parece, na parte da produção, mérito nota mil, realizaram o desafio e que maneiro por eles! Mas, considerando ser verdade a data de estréia e concordando que um dos grandes problemas do mercado do cinema brasileiro reside na área dos exibidores - mais especificamente na completa dominância deste sistema por parte de filmes/distribuidores estrangeiros - cabe uma boa discussão, à qual inicio com algumas reflexões e espero que vocês continuem nos comentários: sobre a "Operação Sonia Silk", o seu lançamento e o estado do cinema brasileiro no que tange à produção, distribuição e exibição:

Supostamente existe uma espécie de acordo silencioso entre as distribuidoras para não botar o lançamento de um filme brasileiro competindo com outro filme brasileiro. É um brasuca por fim de semana. O entendimento por trás disto é que, como há tão pouco filme brasileiro por ano, um longa tupiniquim canibalizaria o outro. Infelizmente "filme nacional", independente de ser comédia, drama, suspense etc., é considerado um "gênero". Se por um lado o suposto acordo pode ser visto como um ato de respeito mútuo para que os filmes não saiam prejudicados, também podemos encarar como um ato de covardia. Entrando numa esfera política-histórica, será que não tem a ver com a visão ideológica do governo para/com o cinema e também dos profissionais do cinema para/com o cinema? Arte e não mercado? A mente mais capitalista poderia falar que a competição é a alma do negócio e pode, inclusive, ser o que falta para que estes filmes ganhem seu espaço e deixem de vir acompanhados de mil desculpas como "foi um filme feito com muito amor". Isso aqui deveria ser um trabalho, uma indústria e não um ato de caridade artístico.

O que você vê no horizonte, Leandra? Uma solução para os problemas do cinema brasileiro?

Adicionando à dificuldade, do outro lado do espectro, com uma produção muito mais numerosa, os estrangeiros tem um poder de barganha incrível, pois na hora de botar um filme genérico pra raspar o fundo do pote e ganhar mais uma graninha, tem aquele medo por parte do exibidor de tipo "cara, se eu não passar esse filmeco em detrimento de um brasileiro, será que eles não vão me vender muito mais caro o Homem Aranha 9 quando sair?". A verdade é que os grandes clientes dos exibidores são os filmes e as distribuidoras estrangeiras. São eles que garantem a comida na mesa no inverno e no verão e todo o período entre essas estações.

Levando em conta o acima exposto e, considerando que além dos 3 filmes da Operação Sonia Silk, ainda estrearão neste fim de semana "Casa grande", de Fellipe Barbosa e o documentário "Para sempre teu Caio F." a tal da regra está prestes a ser quebrada monumentalmente só que... será que, nesse caso, é uma boa idéia?

Falta-me dados, mas fato que esta quebra de regra deve acontecer de vez em quando. O que dificilmente acontece é a estreia de potenciais "blockbusters" nacionais no mesmo fim de semana. E este definitivamente não é o caso aqui, os números não são significativos. O maior lançamento entre os 5 filmes será "Casa Grande" em míseras 20 salas e juntando os três filmes da Operação (5-5-1) mal ultrapassa a metade das salas do "Casa Grande". Então, considerando o baixíssimo número de salas, do que adianta lançar os três filmes de  uma vez? Poderia se argumentar que o fim de semana não tem grandes estréia estrangeiras, lançar os 3 daria pauta, poderia gerar um bom boca-a-boca e fazer os filmes crescerem. Mas sabendo que a proposta dos 3 filmes da Operação é trabalhar com o mesmo elenco, que boca-a-boca vai ser esse?

"Viu o filme da Mariana Ximenes com a Leandra Leal?"
"Qual, o que ela volta pro Rio?"
"Não, o que uma se apaixona pela outra!"
"Peraí, estamos falando do mesmo filme?"

É confuso.

Também é sexy, no entanto.

Será que lançar 1 de cada vez em suas pouquinhas salas não geraria mais interesse? É estatístico que, pelo menos um deles, já vai estar fora das salas no próximo fim de semana (eu chuto que os três já estarão, mas aí não é mais estatístico). Do jeito que está, me parece mais que foi algo tipo "não temos o que fazer com esses filmes, sabemos que não vai trazer público por conta de todas as conjunturas, então lança logo tudo de uma vez porque temos que seguir em frente".

Nada contra os 3 filmes. Imagino que o barato da Operação seja mesmo a realização e a propagação da iniciativa em outras janelas tipo o canal Brasil, parceiro do projeto, que vai ajudá-la a ser mais mais vista. E, se alguém se importa, "O uivo da gaita" e "O Rio nos pertence" me parecem ser muito interessantes, inclusive. Esta é a complexidade do estado do cinema brasileiro: todos estes filmes, incluindo "Casa Grande", são do eixo Rio-SP, falam todos sobre assuntos relativamente comuns ao público movie goer e tem estrelas reconhecidas como Marcelo Novaes, Mariana Ximenes e Leandra Leal em seus elencos. Mesmo assim penam para serem vistos e relevante. Mega marginais.

Bom, para não parecer um chato chorador de pitombas: já foi pior que isso. E na prática nada interfere no seu trabalho de roteirista (mas pode interferir na sua carreira, afinal você precisa que seus filmes estreiem, né?), no entanto, como esta seção se chama "Mercado" e você, roteirista, é parte da engrenagem, é sempre bom discutir e pensar junto para encontrar soluções que sejam boas para todo mundo.

O que você acha sobre isso tudo? Gosta da competição ou faz a linha mais paternalista? Como fugir dessa dicotomia e discutir medidas menos moralistas e mais pragmáticas? Deixe seu comentário aqui embaixo!

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