Semana passada falei sobre o Teste de Bechdel, o qual julgo uma interessante ferramenta de auto-análise para o seu roteiro. Tanto para fins criativos quanto mercadológicos.
Como fez sucesso, hoje trago o chamado Teste Vito Russo, uma espécie de adaptação do Bechdel para a esfera da causa LGBT. Os três quesitos são:
- O filme contém um personagem que é identificado como lésbica, gay, bissexual e/ou transgênero
- O personagem NÃO deve ser exclusivamente ou predominantemente definido pela sua orientação sexual ou identidade de gênero
- O personagem deve estar vinculado na trama de tal forma que sua remoção teria um efeito significativo
Botei o "não" do número 2 all caps porque na Wikipedia do Teste Bechdel traduziram - de propósito ou não - omitindo a palavra e isso altera tudo. Transformaria em uma inútil ferramenta tanto do lado criativo quanto do lado ideológico. Ambos os testes só são interessantes porque buscam naturalizar algo que a sociedade vem tratando como especial/estrangeiro; a preferência sexual em relação ao Teste Vito Russo e a independência de identidade do sexo feminino em relação ao Teste de Bechdel.
Aliás, acho importante voltar um pouco à discussão do Teste de Bechdel e deixar claro que, de certo que há muitos preconceitos profundos enraizados em cada um de nós, mas reputo a culpa dos filmes que não passam no Teste de Bechdel (e no de Vito Russo), à falta de criatividade e não a uma vontade machista/sexista/homofóbica de seus realizadores. É culpa de um reducionismo estereotipal preguiçoso que nós, roteiristas e/ou realizadores, praticamos, onde o gênero e a preferência sexual é 100% da identidade de uma pessoa. Eu tenho muitos amigos e amigas homosexuais - dur, trabalho com cinema - e nenhum deles é definido apenas pela sua identidade sexual. Eles falam sobre outros aspectos, dilemas e problemas de suas vidas que não ligados ao sexo e/ou a preferência sexual deles. Se não fosse assim, provavelmente depois de um tempo a curiosidade se esgotaria e eu não teria mais motivo para ser tão próximo deles, pois não haveria muito em comum para conversar.
Não posso falar por elas, mas entendo que importa menos para ambas as "causas" o protagonismo/tempo de tela do que a qualidade/naturalidade do que é representado para os integrantes de ambas as causas. Já no lado criativo, posso falar tranquilamente que não há nada mais clichê, ruim e enfadonho do que o personagem que é "predominantemente definido por sua orientação sexual". Qualquer coisa que seja "predominantemente definido" por algo, traduz "unidimensional" e qualquer tipo de unidimensionalidade em seu personagem não é desejável. Então, more power to Teste Vito Russo!
Qual a sua opinião sobre o Teste Vito Russo? Deixe, respeitosamente, sua contribuição criativa nos comentários!
0 comentários